sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Relatório de Atividade


Por Raphael Rodrigues Peixoto
23/08/2012

Plano de trabalho:

Buscou-se organizar os arquivos referentes ao Campus da UFJF juntamente com o bolsista Maurício. Foi feito um levantamento bibliográfico, com textos, fotos, mapas. Em seguida passamos à análise e estudo do material levantado a fim de buscar que os mesmos se Integrem de forma coerente para que ao final se possa produzir um artigo.

Foi feita uma análise comparativa entre os planos diretores da UFJF de 1973 e 2004, para tentarmos traçar um paralelo entre o que estava previsto e o que realmente foi implantado. Foram abordados muitos estudos feitos por alunos e professores do curso de Arquitetura e Urbanismo, realizados ao longo do tempo através de pesquisas e coleção de documentos, e que tem o plano diretor de 1973 como uma das fontes de pesquisa.

De um modo geral toda a comparação se desenvolveu através das partes que constituem de interseções entre os dois textos, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento da arquitetura do campus dentro de todo o contexto do crescimento do movimento moderno na cidade de Juiz de Fora, alem de todo o trabalho realizado nas duas frentes pelo engenheiro Artur Arcuri, destacando o campus da UFJF como sua obra mais representativa.

A PROPOSTA DE ARTHUR ARCURI


O projeto modernista segue os paradigmas do urbanismo modernista racionalista, onde os ângulos retos, as formas cúbicas, o purismo geométrico, juntamente com a liberdade espacial, são as premissas principais utilizadas por Arcuri, para a implantação do campus universitário. Além destes a compreensão da paisagem local, ou seja, o estudo da topografia, que o remeteu a Ouro Preto, a integração dos estudantes e professores, a adoção de uma arquitetura funcional e de construção prática, resultou num projeto que podem ser encontrados aspectos tanto racionalista como funcionalista.

O ASPECTO URBANO    


A proposta original do Engenheiro Arthur Arcuri, apresentada no ano de 1965, denuncia sua forte ligação com os princípios do Movimento Moderno. Não ficando preso somente aos pragmatismos de Le Corbusier, alguns aspectos de seu projeto urbano são influências diretas de Lúcio Costa, como a heterogeneidade das edificações presentes no mesmo projeto (Gorovitz, 1993).

O urbanismo preconizado por Corbusier visava a adaptação da cidade para uma nova realidade mundial: a indústria. “As máquinas surgiram em massa; o seu número aumentou de tal forma que os costumes foram por isso afetados e modificados; a economia e a sociologia não deixam (...) de sofrer transformações cada vez mais profundas” (Corbusier, 1977, p. 24).

As vias de circulações agora receberiam um grande fluxo de automóveis, deveriam ser maiores, racionais e independentes das vias dos pedestres. “Essas circulações têm uma primeira missão: dissipar a confusão das velocidades naturais (o passo humano) e das velocidades mecânicas (automóveis, autocarros, elétricos, velocípedes e motociclos) por uma classificação apropriada” (CORBUSIER, 1977, p.76).

Os edifícios eram implantados obedecendo a fatores técnicos (iluminação, ventilação), “(...) e se destacam volumetricamente como módulos isolados ou agrupados e articulados, formando conjuntos igualmente autônomos” (Gorovitz, 1993, p. 33). Para os vastos espaços entre as edificações eram destinadas áreas verdes (park-ways) que seriam locais de circulação e vivência entre pessoas que habitavam esses edifícios, além “(...) do espírito de encanto, de casamento feliz da técnica com a natureza.” (CORBUSIER, 1977, p.90).

Para o projeto viário do Campus Universitário foi implantado “(...) um traçado de vias que a própria topografia do terreno sugeriu”. (Arcuri, 1965). Evitou-se implantar na área central vias que ocupariam a parte plana do terreno, “(...) os pedestres ficariam assim resguardados dos inconvenientes e perigos decorrentes de vias transversais” (Arcuri, 1965), por isso ela é circundada por um anel viário que se ramifica para alcançar os platôs onde foram inseridos os setores de ensino.

O principal aspecto do projeto que o insere no rol de projetos modernos é uma forte setorização das atividades. Arcuri imagina um zoneamento funcional do Campus. “Podemos (...) considerar (...) dois setores distintos: o de vivência e o de ensino e pesquisas, os quais deverão vincular-se funcionalmente” (Arcuri, 1965).

“O setor de vivência, compreendido pelas três zonas: habitacional, esportiva e comuno-cultural, devem constituir um único conjunto urbanístico” (ARCURI, 1965). Neste conjunto urbanístico, que hoje compreende o edifício da Biblioteca Central e o Lago (maior que no projeto original), estaria concentrada toda a vivência entre os estudantes do Campus.

A área que Arcuri se refere como comuno-cultural estava diretamente ligada com as habitações estudantis, era composta pela administração da universidade, teatro,, cinema, biblioteca, instituto de artes, museu, lojas, capela, restaurante, entre outros atrativos. As edificações se apresentam com os princípios formalistas Modernos: a forma pura prismática, porém denunciando uma preocupação funcional quando se adota uma forma diferenciada para os auditórios, como Le Corbusier para o projeto do MEC.

As habitações estudantis estavam entre a área comuno-cultural e a área de esportes. Sua implantação com blocos alternados revela a preocupação de Arcuri em criar “(...) pátios internos, ajardinados (...)” (ARCURI, 1965); a circulação entre os blocos se dá por passarelas.

A área de esportes de divide em duas, uma mais próxima das habitações, estas com diversas quadras para o uso cotidiano dos estudantes, e outra com o estádio e o ginásio de esportes. Para os conceitos de zoneamento funcional, circulações otimizadas e maior contato dos estudantes com o esporte, Arcuri propõe um ligação entre essas duas áreas esportivas através de uma circulação sob o anel viário.

As áreas de ensino e pesquisa “(...) vai naturalmente desenvolver--se em torno no núcleo (...)” (ARCURI, 1965), que corresponde todo o setor de vivência. As edificações do setor de ensino mantêm uma linguagem Moderna, dos blocos prismáticos com pouca variação formal, exceto para os auditórios, como comentado acima.

Um fator interessante desse setor de ensino e pesquisa é a presença das habitações dos professores, provavelmente um conceito herdado da Bauhaus “As características humanas são até mais decisivas do que o conhecimento técnico e o talento; pois do caráter do mestre depende o sucesso fecundo do trabalho em conjunto com a juventude” (GROPIUS, 1988, p.43).

O projeto original do Engenheiro Arthur Arcuri foi então analisado por uma comissão (COPLACIL) e sofreu modificações ao longo do tempo. Foi suprimido praticamente todo o aspecto programático da área central de vivência, muito conceituada no primeiro memorial justificativo apresentado em outubro de 1965.

O desenho urbano foi revisto, provavelmente por uma necessidade topográfica, porém mantendo a idéia da setorização com um núcleo embrionário. Para as edificações implantadas se priorizou as de função de ensino e pesquisa, talvez por um problema econômico ou político. Toda a idéia de Arcuri para o centro comuno-cultural se condensou em uma grande praça cívica, o aumento do lago e a implantação do edifício da Biblioteca Central.

Atualmente o Campus Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora sofre uma expansão desordenada e sem critérios. Esta situação não é exclusiva da sua atual expansão, uma vez que administrações sucessivas realizaram expansões sem a devida atenção ao projeto original e nem a sua necessária atualização. Vão surgindo edifícios anexos aos existentes e outros novos, pertencentes a novas unidades acadêmicas, necessárias a própria evolução da universidade, que não se utilizam de conceitos claros, em contraposição ao conceito de Arcuri.

Consideramos que o projeto original de Arcuri é um Plano Diretor que somente Kleinsorger respeitou. Foram feitos algumas tentativas de atualização do plano de Arcuri, como os Planos Diretores de 1984/85 e 2004. Porém estes nunca foram implantados. E o que se vê hoje é uma profusão de edifícios projetados sem critério nenhum, preconizando uma arquitetura de má qualidade.


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