Por Raphael Rodrigues Peixoto
23/08/2012
Plano de
trabalho:
Buscou-se organizar os arquivos referentes ao Campus da UFJF
juntamente com o bolsista Maurício. Foi feito um levantamento bibliográfico,
com textos, fotos, mapas. Em seguida passamos à análise e estudo do material
levantado a fim de buscar que os mesmos se Integrem de forma coerente para que
ao final se possa produzir um artigo.
Foi feita uma análise comparativa entre os planos diretores da
UFJF de 1973 e 2004, para tentarmos traçar um paralelo entre o que estava
previsto e o que realmente foi implantado. Foram abordados muitos estudos
feitos por alunos e professores do curso de Arquitetura e Urbanismo, realizados
ao longo do tempo através de pesquisas e coleção de documentos, e que tem o
plano diretor de 1973 como uma das fontes de pesquisa.
De um modo geral toda a comparação se desenvolveu através das
partes que constituem de interseções entre os dois textos, principalmente no
que diz respeito ao desenvolvimento da arquitetura do campus dentro de todo o
contexto do crescimento do movimento moderno na cidade de Juiz de Fora, alem de
todo o trabalho realizado nas duas frentes pelo engenheiro Artur Arcuri,
destacando o campus da UFJF como sua obra mais representativa.
A PROPOSTA DE
ARTHUR ARCURI
O projeto modernista segue os
paradigmas do urbanismo modernista racionalista, onde os ângulos retos, as
formas cúbicas, o purismo geométrico, juntamente com a liberdade espacial, são
as premissas principais utilizadas por Arcuri, para a implantação do campus
universitário. Além destes a compreensão da paisagem local, ou seja, o estudo
da topografia, que o remeteu a Ouro Preto, a integração dos estudantes e
professores, a adoção de uma arquitetura funcional e de construção prática,
resultou num projeto que podem ser encontrados aspectos tanto racionalista como
funcionalista.
O ASPECTO URBANO
A proposta original do Engenheiro
Arthur Arcuri, apresentada no ano de 1965, denuncia sua forte ligação com os
princípios do Movimento Moderno. Não ficando preso somente aos pragmatismos de
Le Corbusier, alguns aspectos de seu projeto urbano são influências diretas de
Lúcio Costa, como a heterogeneidade das edificações presentes no mesmo projeto
(Gorovitz, 1993).
O urbanismo preconizado por
Corbusier visava a adaptação da cidade para uma nova realidade mundial: a
indústria. “As máquinas
surgiram em massa; o seu número aumentou de tal forma que os costumes foram por
isso afetados e modificados; a economia e a sociologia não deixam (...) de
sofrer transformações cada vez mais profundas” (Corbusier, 1977, p. 24).
As vias de circulações agora
receberiam um grande fluxo de automóveis, deveriam ser maiores, racionais e
independentes das vias dos pedestres. “Essas
circulações têm uma primeira missão: dissipar a confusão das velocidades
naturais (o passo humano) e das velocidades mecânicas (automóveis, autocarros,
elétricos, velocípedes e motociclos) por uma classificação apropriada” (CORBUSIER, 1977, p.76).
Os edifícios eram implantados
obedecendo a fatores técnicos (iluminação, ventilação), “(...) e se destacam
volumetricamente como módulos isolados ou agrupados e articulados, formando
conjuntos igualmente autônomos” (Gorovitz,
1993, p. 33). Para os vastos espaços entre as edificações eram destinadas áreas
verdes (park-ways) que seriam locais de circulação e vivência entre pessoas que
habitavam esses edifícios, além “(...)
do espírito de encanto, de casamento feliz da técnica com a natureza.” (CORBUSIER, 1977, p.90).
Para o projeto viário do Campus
Universitário foi implantado “(...)
um traçado de vias que a própria topografia do terreno sugeriu”. (Arcuri,
1965). Evitou-se implantar na área central vias que ocupariam a parte plana do
terreno, “(...) os pedestres
ficariam assim resguardados dos inconvenientes e perigos decorrentes de vias
transversais” (Arcuri, 1965),
por isso ela é circundada por um anel viário que se ramifica para alcançar os
platôs onde foram inseridos os setores de ensino.
O principal aspecto do projeto que o
insere no rol de projetos modernos é uma forte setorização das atividades.
Arcuri imagina um zoneamento funcional do Campus. “Podemos (...) considerar (...)
dois setores distintos: o de vivência e o de ensino e pesquisas, os quais
deverão vincular-se funcionalmente” (Arcuri,
1965).
“O setor de vivência, compreendido
pelas três zonas: habitacional, esportiva e comuno-cultural, devem constituir
um único conjunto urbanístico” (ARCURI,
1965). Neste conjunto urbanístico, que hoje compreende o edifício da Biblioteca
Central e o Lago (maior que no projeto original), estaria concentrada toda a
vivência entre os estudantes do Campus.
A área que Arcuri se refere como
comuno-cultural estava diretamente ligada com as habitações estudantis, era
composta pela administração da universidade, teatro,, cinema, biblioteca,
instituto de artes, museu, lojas, capela, restaurante, entre outros atrativos.
As edificações se apresentam com os princípios formalistas Modernos: a forma
pura prismática, porém denunciando uma preocupação funcional quando se adota
uma forma diferenciada para os auditórios, como Le Corbusier para o projeto do
MEC.
As habitações estudantis estavam
entre a área comuno-cultural e a área de esportes. Sua implantação com blocos
alternados revela a preocupação de Arcuri em criar “(...) pátios internos, ajardinados
(...)” (ARCURI, 1965); a
circulação entre os blocos se dá por passarelas.
A área de esportes de divide em
duas, uma mais próxima das habitações, estas com diversas quadras para o uso
cotidiano dos estudantes, e outra com o estádio e o ginásio de esportes. Para
os conceitos de zoneamento funcional, circulações otimizadas e maior contato
dos estudantes com o esporte, Arcuri propõe um ligação entre essas duas áreas
esportivas através de uma circulação sob o anel viário.
As áreas de ensino e pesquisa “(...) vai naturalmente
desenvolver--se em torno no núcleo (...)” (ARCURI,
1965), que corresponde todo o setor de vivência. As edificações do setor de
ensino mantêm uma linguagem Moderna, dos blocos prismáticos com pouca variação
formal, exceto para os auditórios, como comentado acima.
Um fator interessante desse setor de
ensino e pesquisa é a presença das habitações dos professores, provavelmente um
conceito herdado da Bauhaus “As
características humanas são até mais decisivas do que o conhecimento técnico e
o talento; pois do caráter do mestre depende o sucesso fecundo do trabalho em
conjunto com a juventude” (GROPIUS,
1988, p.43).
O projeto original do Engenheiro
Arthur Arcuri foi então analisado por uma comissão (COPLACIL) e sofreu
modificações ao longo do tempo. Foi suprimido praticamente todo o aspecto
programático da área central de vivência, muito conceituada no primeiro
memorial justificativo apresentado em outubro de 1965.
O desenho urbano foi revisto,
provavelmente por uma necessidade topográfica, porém mantendo a idéia da
setorização com um núcleo embrionário. Para as edificações implantadas se
priorizou as de função de ensino e pesquisa, talvez por um problema econômico
ou político. Toda a idéia de Arcuri para o centro comuno-cultural se condensou
em uma grande praça cívica, o aumento do lago e a implantação do edifício da
Biblioteca Central.
Atualmente o Campus Universitário da Universidade Federal de Juiz
de Fora sofre uma expansão desordenada e sem critérios. Esta situação não é
exclusiva da sua atual expansão, uma vez que administrações sucessivas
realizaram expansões sem a devida atenção ao projeto original e nem a sua
necessária atualização. Vão surgindo edifícios anexos aos existentes e outros
novos, pertencentes a novas unidades acadêmicas, necessárias a própria evolução
da universidade, que não se utilizam de conceitos claros, em contraposição ao
conceito de Arcuri.
Consideramos que o projeto original de Arcuri é um Plano Diretor
que somente Kleinsorger respeitou. Foram feitos algumas tentativas de
atualização do plano de Arcuri, como os Planos Diretores de 1984/85 e 2004.
Porém estes nunca foram implantados. E o que se vê hoje é uma profusão de
edifícios projetados sem critério nenhum, preconizando uma arquitetura de má
qualidade.